Objetivo: Mensurar a validade e a confiabilidade dos questionários WOMAC, IKDC, Lysholm em pacientes com osteoartrite no joelho e determinar a influência da idade no escore destes. Método: Cinquenta e sete pacientes com diagnóstico de OA primária de joelho completaram os questionários SF-36, WOMAC, Lysholm e IKDC. A validade foi testada mensurando a correlação (coeficiente de correlação de Pearson, "r") entre os questionários. A consistência interna foi mensurada através do a de Cronbach e a concordância através das representações gráficas de Altman-Bland e concordância- sobrevivência. Para determinar a influência da idade nos resultados correlacionamos esta com os escores dos três questionários de joelho através do coeficiente de determinação de Pearson (r2). Resultados: O IKDC (0,62) e o WOMAC (0,642) apresentaram correlações moderadas para forte em relação ao resumo das capacidades físicas do SF-36, enquanto que o Lysholm apresentou correlações moderadas (0,555). O a de Cronbach apresentou valores de 0,811 para o IKDC, 0,959 para o WOMAC e 0,734 para o Lysholm. Apesar da forte correlação entre WOMAC e IKDC (0,843), WOMAC e Lysholm (0,759) e IKDC e Lysholm (0,858), as representações gráficas de Altman-Bland e concordância-sobrevivência demonstram que a concordância entre os três questionários é baixa. O IKDC, Lysholm e WOMAC apresentaram um coeficiente de determinação de Pearson (r2) de 0,004, 0,010 e 0,043 com a idade, respectivamente. Conclusão: A idade não demonstrou ser fator limitante à utilização de nenhum dos questionários aplicados neste estudo. Os testes de concordância e das correlações com os componentes físicos do SF-36 sugerem que o WOMAC é mais adequado para avaliar as capacidades funcionais e limitações relacionadas aos aspectos físicos, enquanto que o IKDC parece ser mais adequado para avaliar as limitações funcionais relacionadas à dor.Descritores - Osteoartrite; Questionários; Psicometria.
PACIENTES E MÉTODOS: o questionário original, publicado em língua inglesa, foi traduzido por três professores de inglês, e após, retraduzidos por outros três professores. Quatro fisioterapeutas se reuniram e, comparando as traduções, elaboraram a primeira versão. Esta foi aplicada a 11 pacientes com diagnóstico de osteoartrite de joelhos e/ou quadris, e esta versão foi reconhecida plenamente pelos pacientes, que não relataram problemas de compreensão. Passou-se, então, a aplicar esta versão, considerada como definitiva, a outros 73 pacientes da seguinte forma: uma vez pelo observador 1 (A1), no mesmo dia pelo observador 2 (A2) e uma semana mais tarde pelo observador 1 ou 2 (A3). Conjuntamente, colheu-se dados sobre idade e sexo, e aplicou-se o questionário Westerm Ontário and McMaster Universities (WOMAC) em sua versão validada para língua portuguesa.
Na etapa de back translation, o instrumento produzido na etapa anterior foi traduzido novamente para o idioma original para comparação com o mesmo, por tradutores com conhecimento dos dois idiomas e que, desta vez, não conheciam o objetivo do estudo.
A tradução do questionário foi realizada por dois tradutores independentes, conhecedores da língua original do questionário e cientes do objetivo do estudo. As duas versões produzidas foram analisadas por uma equipe de profissionais, com a formulação de uma versão única, mantendo as características fundamentais dos conceitos encontrados no questionário original.
Os critérios de exclusão foram: pacientes de outras instituições, indivíduos portadores de qualquer outra alteração ortopédica e/ou neurológica que afete os membros inferiores.
Há outros estudos comparativos entre os dois questionários, como o de Bellamy et al(11), que usou o questionário de Lequesne e WOMAC para verificar a superioridade de um medicamento em relação a outro, e verificou serem ambos os questionários estatisticamente eficientes, pois apresentaram resultados semelhantes quanto ao registro da melhora dos pacientes portadores de osteoartrite após o uso da medicação proposta(29). O mesmo fato foi verificado por Pavelká et al(30), através de um estudo semelhante, que envolveu outro tipo de medicação. Singh et al(31) e Berman et al(32) propuseram tratamento para osteoartrite através de acupuntura e observaram a melhora de seus pacientes através das respostas aos questionários de Lequesne e WOMAC, que foram semelhantes(31, 32). Acreditamos que, com a validação do questionário de Lequesne no Brasil, trabalhos semelhantes possam ser realizados, pois o instrumento WOMAC foi recentemente validado por Fernandes(13), o que permite que estudos comparativos de propostas de tratamentos sejam avaliadas concomitantemente por dois meios válidos e conceituados mundialmente(13).
O trabalho de Faucher(4) avaliando a confiabilidade teste-reteste do questionário de Lequesne conseguiu um ICC de 0,95 para joelho, enquanto no presente estudo, obtivemos 0,99 para joelho e 0,98 para quadril. A presente pesquisa apresenta bons índices de correlação com WOMAC, sendo 0,722 para Lequesne contra WOMAC dor, 0,564 contra WOMAC rigidez e 0,768 contra WOMAC função. Faucher obteve na mesma correlação 0,560 para dor e 0,750 para função contra WOMAC.
A osteoartrite ainda é uma doença com pouca correlação clínica e radiográfica e não há uma boa definição que englobe sintomas disfunção e alterações estruturais. Por isso, questionários que inquiram aspectos de dor, disfunção de marcha e atividades da vida diária (AVD) são preciosos para avaliação do estadiamento da doença e resultados do tratamento(20, 21).
Sua prevalência aumenta com a idade, de 7% entre pessoas de 65-70 anos a 11,2% entre aqueles com 80 anos ou mais, pouco variando entre os estudos existentes(3, 4). Um recente estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) refere que a osteoartrite seria a quarta causa mais importante de incapacidade entre mulheres e a oitava entre homens. Estudos radiográficos mostram algumas alterações em 30% de homens e mulheres acima de 65 anos, mas apenas um terço destes são sintomáticos(1).
Os critérios de inclusão foram: os pacientes estavam em atendimento no Lar Escola São Francisco (LESF) ou Hospital São Paulo (HSP). Apenas pacientes alfabetizados (mínimo de três anos) poderiam responder ao questionário. A idade mínima para a inclusão era de 55 anos, não havendo idade máxima.
O Outcome Measures in Rheumatology Clinical Trials group (OMERACT) recomenda a obrigatoriedade do uso de questões que inquiram sobre dor e função em estudos clínicos, assim como demonstram a importância de questões sobre rigidez(24).
A versão em língua portuguesa (Brasil) do índice algofuncional de Lequesne, para avaliação de osteoartrite de joelhos e quadris está validada para uso em população brasileira.
RESULTADOS: para osteoartrite de joelhos, os pacientes do pré-teste (10 de 11 avaliados) tinham idade média de 63 anos (DP=9,3) e dois eram homens. Sua nota média para o índice de Lequesne foi de 14,9 (DP=5,1). Os pacientes, avaliados com a versão definitiva, em número de 42, tinham em média 67,5 anos (DP=8,7), cinco eram homens. Sua média para o índice de Lequesne foi para A1=11,9 (DP=5,0), para A2=12,1 (DP=6,4) e A3=11,3 (DP=7,9). A correlação intraclasse entre A1 e A2 foi de 0,99 e entre A1 e A3 foi de 0,99. O coeficiente de Pearson entre A1 e WOMAC dor foi de 0,800, WOMAC rigidez foi de 0,640 e WOMAC função foi 0,828, todas estatisticamente significantes. Para osteoartrite de quadris, os pacientes do pré-teste (3 dos 11 avaliados) tinham idade média de 67 anos (DP=9,18) e todos eram mulheres. Sua nota média para o índice de Lequesne foi de 11,2 (DP=5,86). Os pacientes, avaliados com a versão definitiva, em número de 37, tinham em média 66,9 anos (DP=9,01), 8 eram homens. Sua média para o índice de Lequesne foi para A1=12,5 (DP=5,6), para A2=12,5 (DP=5,7) e A3=14,1 (DP=6,3). A correlação intraclasse entre A1 e A2 foi de 0,99 e entre A1 e A3 foi de 0,98. O coeficiente de Pearson entre A1 e WOMAC dor foi de 0,759, WOMAC rigidez foi de 0,659 e WOMAC função foi 0,851, todas também estatisticamente significantes.
A osteoartrite sintomática progride em um padrão que inclui dor articular, perda de força, incapacidade para marcha e redução da aptidão física(5). Os fatores de risco para o desenvolvimento da osteoartrite incluem obesidade, excesso de esforço articular, lesões periarticulares e alguns riscos ocupacionais(6). Alguns autores consideram também a presença de componentes genéticos(1). Nos membros inferiores (MMII), a osteoartrite tem grande impacto nas articulações de joelhos e quadris. Essa alteração resulta em grande incapacidade para a marcha, transposição de obstáculos (como escadas) e cuidados domésticos(5). Nas mulheres, a osteoartrite de joelhos é mais prevalente, enquanto nos homens a manifestação é mais comum nos quadris(2). Os sintomas mais referidos são dor e perda de função. A incapacidade resultante reduz a qualidade de vida e aumenta riscos de morbidade e mortalidade(1).
Na validação do WOMAC para o português usando o questionário de Lequesne, ainda não validado, obteve-se nota média de 10,33, demonstrando, segundo o autor, boa correlação. As notas médias atingidas durante a validação do instrumento WOMAC foram de 43,21 para dor, 43,45 para rigidez e 37,95 para função(13).